sábado, 26 de março de 2011

Norte e Nordeste têm a pior carência de dentistas

Norte e Nordeste têm a pior carência de dentistas

Em sete estados das regiões, o número de profissionais em relação à população está abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde
Publicado em 26/03/2011 | PONTA GROSSA - MARIA GIZELE DA SILVA, DA SUCURSAL

O Brasil tem um dentista para cada 793 pessoas – uma proporção considerada aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas, quando se analisa a situação em diferentes partes do país, a má distribuição desses profissionais salta aos olhos. Cerca de 55% dos dentistas estão na Região Sudeste, por exemplo. A maior carência está nas Regiões Norte e Nordeste.
Segundo levantamento baseado em dados do Conselho Federal de Odontologia (CFO), o número de especialistas em saúde bucal é inferior ao recomendado pela OMS em sete estados do Norte e Nordeste. Acre, Amapá, Pará, Piauí, Bahia, Ceará e Maranhão têm, em média, um dentista para cada 1,8 mil pacientes. A proporção ideal, segundo a OMS, é de 1,5 mil. Já as Regiões Sul e Sudeste estão em situação oposta: sobra mão de obra. Para o presidente do CFO, Ailton Diogo Morilhas, é preciso promover uma política de interiorização desses profissionais para melhorar a distribuição territorial.
Constatação
Interior possui mais dentista que médico
A interiorização tão desejada na classe médica é mais comum entre os dentistas. Melhores salários, excesso de mão de obra e consolidação do programa Brasil Sorridente parecem ser as causas da maior facilidade na contratação de odontólogos na comparação com médicos.
Dos 15.151 dentistas do Paraná, 30% estão na capital. Segundo o setor de estatísticas do Conselho Regional de Odontologia (CRO) do Paraná, 4.523 profissionais residem em Curitiba. Entre os médicos, a conta é diferente: 54% dos 16.894 médicos estão na capital. O salário inicial dos profissionais da Medicina também é mais alto: um médico em início de carreira recebe até R$ 2,5 mil enquanto um dentista ganha em média R$ 1,5 mil.
Na avaliação do presidente do CRO, Roberto Cavalli, deveria haver ainda mais dentistas no interior do Paraná. “Curitiba não concentra 30% dos moradores do estado, então, os nossos profissionais ainda estão mal distribuídos”, atesta. Ele acrescenta que o ideal seria que o poder público criasse uma política de contratação de profissionais e um plano de carreira a fim de que os dentistas com dedicação exclusiva fossem melhores remunerados.
O Maranhão é o estado com a pior proporção: há um dentista para cada grupo de 2.587 pessoas. Para Morilhas, a distância de muitos municípios do Norte e Nordeste pesa na decisão do dentista ao optar pelo local de trabalho. “Há uma precarização muito grande no acesso a essas regiões e também nas condições de trabalho”, comenta. Segundo o Ministério da Saúde, o programa Brasil Sorriden­te foi lançado em 2004 para amenizar esse déficit. O programa incluiu equipes de saúde bucal no Programa Saúde da Família. Hoje, 20.495 equipes com dentistas cobrem 86% dos municípios brasileiros.
Juntas, as Regiões Sul e Sudeste somam quase 75% dos 240,3 mil dentistas em atuação no país. Para Morilhas, é natural que os profissionais procurem os grandes centros. Na opinião da chefe do departamento do curso de Odontologia da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Denise Stadler Wambier, é interessante que sejam criadas políticas públicas para definir os locais de abertura de novos cursos de Odontologia para promover a interiorização. “É importante que o governo avalie qual a real necessidade de se abrir uma nova faculdade numa região que já tem muitos profissionais formados”, comenta. O curso da UEPG já completou 50 anos e forma, anualmente, cerca de 60 dentistas. Em todo o Brasil, segundo o CFO, 11,2 mil novos dentistas saem por ano das faculdades brasileiras.
Oferta
No Paraná, as prefeituras não têm do que reclamar quando o assunto é contratação de dentistas. O estado tem uma das melhores proporções de profissionais por habitantes. São 689 pacientes para cada dentista. Dos 15,1 mil odontólogos em atuação hoje no estado, 70% estão no interior, apesar de todos os atrativos dos grandes centros.
A secretaria de Saúde de Ti­­bagi, município com 19,3 mil habitantes nos Campos Gerais, abriu recentemente duas vagas para dentistas em concurso público. Apareceram 250 candidatos. “Acredito que o salário oferecido, de R$ 4.911, foi o principal atrativo”, diz a secretária Eli­sângela de Carvalho. Os dois no­­vos profissionais vão reforçar o atendimento na rede pública do município, que conta atualmente com oito dentistas.
Em Teixeira Soares, que tem 10,2 mil habitantes nos Campos Gerais, há três dentistas contratados pela prefeitura. “E sempre tem dentista nos procurando querendo saber quando vai abrir concurso de novo”, aponta o secretário Claudinei Ruppel. A 12 quilômetros dali, em Fer­nandes Pinheiro, há cinco dentistas para 5.932 habitantes. Quem reside na zona rural se vale do Odontomóvel – veículo equipado como um consultório dentário – que é levado aos distritos através de agendamento.
PROGRAMA
Saúde bucal ampliou acesso
A família do dentista Thiago Garbuio Martins é da capital e ele cursa pós-graduação em Curitiba. Mas, nos dias de semana, viaja pelo menos uma hora por dia entre Ponta Grossa, onde mora, e o posto de saúde no distrito de Guaraúna, cidade de Teixeira Soares, nos Campos Gerais. A estrutura do posto e a do consultório particular que mantém em Ponta Grossa são similares. “Quando comecei a trabalhar aqui já tínhamos resina em vez de amálgama”, comenta. A amálgama é o que dá o aspecto acinzentado nas obturações de dentes.
Há cinco anos, Martins conta que a assistência odontológica melhorou na região rural em que atua. “Antes os pacientes nos procuravam em casos de dor de dente ou de extração. Hoje, já conseguimos fazer a manutenção de seis em seis meses”, conta. O incentivo é dado nas palestras e nos encontros promovidos pela equipe de saúde bucal do Programa Saúde da Família.
Aumento
Conforme a Secretaria de Estado da Saúde, o Paraná tem hoje 1.185 equipes de saúde bucal em 347 municípios, cobrindo 87% do total de cidades. As equipes oferecem tratamento básico, de restauração, extração e limpeza. Os casos complexos são encaminhados aos Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs), criados em parceria com o governo federal. No Paraná há 51 deles.
O estudante Lucas da Silva de Oliveira, 11 anos, é um dos pacientes do distrito rural de Teixeira Soares. Ele está com todos os dentes permanentes e sem cáries. Essa é a tendência. Segundo a pesquisa Saúde Bucal Brasil 2010, do Ministério da Saúde, a proporção de crianças sem cárie passou de 31% para 44% entre 2003 e 2010. A mesma pesquisa mostrou que entre os adultos houve uma redução de 30% no número de dentes cariados, queda de 45% na quantidade de dentes perdidos por cárie e aumento de 70% no número de dentes tratados.

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