domingo, 22 de maio de 2011

A força mobilizadora da rede No Brasil e no mundo, cada vez mais as mídias sociais são usadas para a organização de protestos. Mas será que essa é uma tendência que veio para ficar?


Confira alguns dados sobre a atividade dos brasileiros nas redes sociais
Crítica leve
Humor é chamariz para jovens
A internet também mostrou que o humor é uma alternativa para incentivar o jovem a participar e se mobilizar, ainda que de forma inicial. O blogueiro Raphael Mendes é criador de um dos blogs de humor mais famosos do país. Com um acesso de 90 mil internautas por dia e quase 110 mil comentários, ele é um dos poucos humoristas na rede que consegue sobreviver do “ofício”. Tudo começou em 2007, quando um vídeo feito por ele concorreu a um prêmio da MTV. Hoje, mensagens que retratem com humor a religião, por exemplo, chegam a render mais de 100 comentários.
O blogueiro Jhonny Jessé tem um blog e um twitter chamados Coca Gelada e defende que o humor é um chamariz para o jovem. Ele diz que os blogueiros usam esta linguagem hoje para fazer críticas. No espaço há discussões de temas atuais, como racismo, religião e política, de uma forma leve. (PC)
Reclame aqui
Empresas na mira dos internautas
A internet também tem interferido no comportamento das empresas. Com as redes sociais, as críticas podem ganhar uma amplitude que antes não existia. Além de o usuário poder reclamar nas próprias contas do Twitter e Facebook, por exemplo, já existem sites especializados em concentrar reclamações dos consumidores e cobrar respostas das empresas. Em relação à política, é cada vez maior a pressão da sociedade por transparência e divulgação de gastos em páginas da internet.

O site Reclame Aqui, um dos maiores no Brasil, faz um ranking das reclamações e há empresas que em menos de um ano já têm mais de 20 mil críticas. No final do ano passado duas empresas de comércio eletrônico foram alvo de críticas dos internautas por não entregarem os produtos comprados até o Natal. Uma deles continua até hoje entre os primeiros do ranking do Reclame Aqui. (PC)

Mundo virtual com vocação para o bem

A internet também se tornou espaço, nos últimos anos, de mobilizações em prol de causas sociais. Existem grupos de discussões, comunidades virtuais, blogs e campanhas que atuam em diversas temáticas, como proteção à infância, pessoas vivendo com HIV/aids, educação ambiental, respeito à diversidade etc. A lista da rede é tão extensa quanto as manifestações do mundo real.
Curadora do Encontro de Twitteiros Culturais do Brasil (ETC Brasil), Fernanda Musardo diz que unir as pessoas e mobilizá-las por algumas causas é a “alma” das redes sociais e por isso elas exercem tanta influência. “Conseguir mobilizar pessoas que você não conhece pessoalmente é um grande feito. Não importa o tamanho da ação.”
No Acre, o Encontro de Twi­­t­­teiros Culturais (ETC) voltou suas atividades para a área social e cultural. Andréa Zílio, coordenadora estadual do grupo, explica que a cada mês são realizados debates em espaços públicos com internet livre e no dia twitteiros “oficiais” reproduzem tudo o que os palestrantes estão discutindo. O ETC Acre também apóia o projeto Floresta Digital, que pretende levar internet livre para todos os cidadãos.
Seguidores
No início deste ano, uma organização não governamental que apóia pessoas com HIV/aids criou uma meta corajosa. A ONG Vhiver quer que o jovem representante da instituição Thiago Victor Barbosa, portador do vírus, tenha 1 milhão de seguidores na rede social Twitter. O objetivo da campanha publicitária é difundir a causa e os serviços prestados pela ONG, que atua em Minas Gerais, ajudando assim a quebrar o preconceito.
Apesar do sucesso na rede, Barbosa afirma que ainda há um longo caminho para que a internet consiga mobilizar de verdade a juventude. Para ele, ainda falta uma abordagem mais qualificada e engajamento. “O ativismo de verdade necessita de embasamento e conteúdo”, argumenta.
Na última semana também surgiram na internet diversas propostas de mobilizações para lembrar o dia 18 de maio, data nacional de combate ao abuso e à exploração sexual infantil. Uma campanha fez com que mais de 100 mil mensagens no Twitter tivessem a expressão “carinho de verdade”, que dá nome à iniciativa. (PC)
A manifestação pública de maior repercussão no país nos últimos tempos não foi nenhuma passeata organizada por uma entidade estudantil ou protesto de central sindical. O “churrascão da gente diferenciada” – uma mobilização contra a mudança de uma estação de metrô em São Paulo, supostamente motivada por pressão de moradores preocupados com o movimento de pessoas de fora do bairro – apareceu em uma rede social e rapidamente ganhou milhares de adeptos. O crescimento do protesto virtual foi tão rápido que as autoridades, temendo confusão, pediram o cancelamento do evento. No fim, cerca de mil pessoas compareceram ao churrasco.

VÍDEO: Veja como foi o encontro entre ativistas virtuais

O episódio paulista é uma mostra da tendência que ainda tem de dizer a que veio. Mobilizações virtuais têm pipocado ao redor do país e com diferentes finalidades – em Curitiba, o exemplo mais recente foi organizado por donos de bares revoltados com o fechamento de um restaurante – e são um indício de que as mídias sociais facilitam e aceleram a criação de uma rede de pessoas conectadas por uma causa.
E o fenômeno não é só local, mas mundial. Na sexta-feira, na Espanha, dezenas de milhares de pessoas se reuniram em protestos contra a situação econômica do país. Os eventos foram organizados via mídias sociais. Os protestos no mundo árabe – a Primavera Árabe, como é chamada – também tiveram na internet a grande ferramenta de mobilização.
Para os analistas, que veem aí uma peça central de como a sociedade vai se organizar no futuro, exemplos como as manifestações no Egito, que depuseram o ditador Hosni Mubarak, alimentadas por jovens que se comunicavam via internet, deixam claro que as redes virtuais não servem apenas para churrascos bem-humorados. As redes sociais se tornaram uma ferramenta a mais para a mobilização e o ativismo social.

Mas, como o uso da internet ainda é recente no país e não é massivo, ainda há muitas dúvidas. Esta é uma febre passageira? A mobilização virtual tem o mesmo poder aglutinador que o ativismo no mundo real? Para especialistas, de forma geral, as redes sociais não são passageiras porque amplificam um comportamento que sempre foi inerente ao ser humano, que é a capacidade de se associar. Mas o resultado depende de quem as usa. É possível ingressar nas redes sociais para discutir ideias, inovações, conhecer e re-encontrar amigos e se mobilizar. Também é possível, no entanto, praticar cyberbullying ou acessar redes de pedofilia.

Há quem critique o mundo virtual e acredite que a internet está dificultando o relacionamento face a face. Quem usa garante que as redes sociais ampliam horizontes, permitem conhecer pessoas e culturas diferentes. E mais: as amizades virtuais podem se tornar “reais”. “Na minha experiência, tenho observado que há um sentimento maior de eco, apoio, pertencimento e comunhão de ideias”, argumenta a pesquisadora Raquel Recuero, professora da Universi­dade Católica de Pelotas.

Em relação à capacidade de mobilização, embora ela ainda seja seminal, a internet também tem um perfil expansionista. “Sempre houve pessoas que fizeram o bem, mas hoje é mais fácil conectá-las”, diz o professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e especialista em redes sociais Gil Giardelli.

Para Raquel Recuero, as pessoas percebem tecnologias – como os sites de rede social e, em especial, o Twitter – como espaços de difusão de informações. “Com isso, conseguem mobilizar outras pessoas em torno de uma ideia”, explica.

A pesquisadora da Universidade Católica de Pelotas diz que mobilizações em torno de uma ideia e de uma informação sempre existiram. “A questão é que hoje há muito mais informação circulando nessas redes, o que possibilita que a gente tenha mais acesso e possa pensar mais sobre situações que necessariamente não receberiam tanta atenção.” Ainda assim, Raquel lembra que, embora o debate seja válido, é importante notar que muitos desses movimentos não saem da esfera da crítica e não resultam em ações concretas.

Gil Giardelli afirma que a revolução provocada pela internet não é digital, mas moral. “Esta é a primeira revolução sem um grande líder. Todos são importantes”, diz. Para o professor da ESPM, pela primeira vez haverá uma aldeia global. “O engajamento digital é um reflexo do que a sociedade está pedindo. Não cabe mais, por exemplo, uma empresa dizer que é sustentável e, na prática, não ser. A moeda do século XXI é a reputação.

Um comentário:

  1. Acreditamos que as redes sociais, são ótimas ferramentas, pois as pessoas acabam ficando "entre amigos", conseguem criticar, aprender, rir e comprar em um ambiente muito democrático...parabéns pelo testo leve e fácil

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