sábado, 2 de abril de 2011

O mistério dos canhotos!!!

CORPO HUMANO
O mistério dos canhotos
Pessoas que escrevem com a mão esquerda integram controle motor, força e os principais tipos de habilidade e inteligência. Mas como?
Publicado em 02/04/2011 | THE NEW YORK TIMES
Fale conosco
RSSImprimirEnviar por emailReceba notícias pelo celularReceba boletinsAumentar letraDiminuir letra
Nova York - Os humanos são animais assimétricos. No início do nosso desenvolvimento embrionário, o coração vai para o lado esquerdo, o fí­­gado se desenvolve para o lado di­­reito e um pulmão tem estrutura distinta da do outro. Em algumas doenças raras, a assimetria usual dos órgãos é invertida. Mas quando se trata da orientação para o uso das mãos, outra assimetria que re­­flete a estrutura e funcionamento do cérebro, o padrão reverso é relativamente comum – e, apesar disso, pouco compreendido.
Durante muitos séculos, os ca­­nhotos foram relacionados a criminalidade e acusados de terem parte com o diabo. As crianças canhotas eram sujeitas a “reeducações”. Nos últimos anos, o estigma praticamente desapareceu. Um dos motivos, talvez, seja que quatro dos últimos sete presidentes dos EUA – Ford, Bush Pai, Clin­­ton e Obama – são canhotos. (Rea­gan é algumas vezes citado como ambidestro; e em sua autobiografia, Gerald Ford admitiu que escrevia com a mão direita se estivesse em pé).

Mitchell Leff/City of Philadelphia

Ampliar imagem
1 - 2 - 3Próxima
Bill Clinton, canhoto, presidente dos EUA entre 1993 e 2001
Mistério
Porém o enigma por trás da orientação do uso das mãos ainda existe. A proporção – cerca de 90% das pessoas são destras e 10%, canhotas – permanece constante com o passar do tempo.
“Isso é algo realmente misterioso”, diz Clyde Francks, geneticista e principal autor de um estudo realizado em 2007 no qual pesquisadores de Oxford identificaram uma variação genética vinculada aos canhotos.
A predominância de uso das mãos (seja a esquerda ou a direita) está ligada à assimetria do cérebro. E isso, de acordo com Francks, “não está completamente entendido; na verdade, estamos começando a compreender o que torna o cérebro assimétrico”.

Embora as assimetrias do cérebro já existam em nossos parentes primatas mais próximos, parece haver um consenso geral de que o cérebro humano é ainda mais assimétrico, e que compreender me­­lhor tal assimetria pode nos mostrar muito sobre quem somos e como nossos cérebros funcionam.

A lateralização cerebral (distribuição de funções entre hemisférios direito e esquerdo do cérebro) é crucial para entendermos a linguagem, a memória de pensamen­­tos e talvez até mesmo a criatividade. Por muitos anos, a orientação das mãos tem sido vista como um possível “solicitador”, uma indicação externa do equilíbrio cerebral entre direita e esquerda.

Para os destros, a atividade linguística ocorre principalmente no lado esquerdo do cérebro. Muitos canhotos também possuem dominância da linguagem no lado es­­querdo, mas um número signifi­­ca­tivo possui a linguagem mais igualmente distribuída em ambos os hemisférios, ou predominantemente no lado direito.

Hereditariedade

A orientação do uso das mãos é comprovadamente hereditária. Um estudo de 2007 publicado por pesquisadores da Universidade de Oxford identificou um gene, chamado LRRTM1, descoberto en­­quan­­to estudavam crianças com dislexia, que acabou sendo associado ao desenvolvimento do si­­nis­­tris­­mo (orientação dos canhotos).
Francks, atualmente no Ins­­ti­­tu­­to Max Planck de Psicolin­­guís­­tica, na Holanda, lembra que a des­­coberta gerou manchetes e atraiu muita atenção, principalmente devido a este gene também ter si­­do desproporcionadamente en­­con­­trado em pessoas com esquizofrenia, embora nenhuma dessas co­­nexões fosse simples ou bem compreendida. “Não estamos procurando por um gene de canhotos, ou um gene para esquizofrenia. Estamos buscando relações muito sutis”, disse o pesquisador. Ainda segundo ele, o gene afeta a forma como os neurônios se comunicam entre si, mas tal mecanismo ainda precisa ser estudado.

Complexidade

Daniel Geschwind, professor de genética humana, neurologia e psiquiatria na Universidade da Ca­­lifórnia, em Los Angeles, está interessado nas ligações entre linguagem e orientação do uso das mãos, e na forma como essa orientação pode nos ajudar a entender a evolução do cérebro humano. “A ori­­entação do uso das mãos possui uma base genética, mas assim co­­mo outros traços, como altura e peso, ela é complexa. Não é um ge­­ne isolado que define isto. Há também um forte componente am­­biental. É uma equação bem complexa”, disse Geschwind.
Preconceito
O canhotismo já foi tratado como patologia. Cesare Lombroso, o in­­fame médico do século 19 que as­­sociou diversas características faciais (e raciais) a traços criminosos, também via o canhotismo co­­mo uma evidência de patologia, primitivismo, selvageria e criminalidade.
Anthony Gentile, um gerente de investimentos de 41 anos que cresceu nos arredores de Cincin­­na­­ti, nos EUA, disse que mesmo sendo canhoto foi ensinado a es­­crever com a mão direita – e em­­bora conseguisse desenhar as le­­tras, ele nunca conseguiu segurar corretamente o lápis com aque­­la mão. “Posso segurar o lápis corretamente com a mão esquerda, mas não tenho coordenação para es­­crever com ela. Parece que estou fa­­zendo tudo certo, mas sou incapaz de formar as letras”, revelou ele.
De fato, parece haver certo fascínio em desvendar as áreas (como a presidência) onde os canhotos parecem ter mais destaque. Exis­­tem até estatísticas de quantos ar­­quitetos são canhotos, ou quantos professores do Massachussets Ins­­titute of Technology (MIT). Por ou­­tro lado, talvez seja preciso celebrar a verdadeira grandeza dos que escrevem com a mão esquerda: a forma como eles integram con­­trole motor, força e os principais tipos de habilidade e inteligência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário